um ano de impeachment

Dilma Rousseff se mantém reclusa e distante da imprensa

Por Da Redação com Terra 31/08/2017 - 13:00

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Foto: Divulgação
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Há exatamente um ano, o Senado decidiu condenar Dilma Rousseff e encerrar o ciclo petista na Presidência. "Condenaram uma inocente e consumaram um golpe", declarou ela pouco depois do resultado da votação, em um discurso que ainda seria repetido muitas vezes.

Fora do Planalto após cinco anos e oito meses, Dilma, agora com 69 anos de idade, ainda tenta se reinventar no papel de ex-presidente. Ao contrário de Lula e Fernando Henrique Cardoso, a participação de Dilma no dia a dia da vida partidária tem sido limitada. 

Ela também não emitiu sinais de estar disposta a concorrer em um futuro próximo a um novo mandato político, como ocorreu com Itamar Franco, Fernando Collor e José Sarney. 

Ainda assim, Dilma não passou o último ano isolada ou seguiu a trajetória imediata de Collor, outro ex-presidente que sofreu impeachment e que, após perder o cargo no final de 1992, se impôs um longo auto-exílio em Miami. 

A petista, apesar de ter inicialmente passado alguns dias em reclusão em Porto Alegre, seu domicílio, logo passou a cumprir uma agenda de palestras, entrevistas e viagens ao exterior.

Ao falar com a imprensa estrangeira, ela denunciou continuamente o que classifica de "golpe" contra seu governo, não fugindo da narrativa de outros petistas. 

No Brasil, ela tem evitado falar à televisão. Em um ano, só concedeu entrevistas para a TVE Bahia e a TV alagoana Ponta Verde, duas emissoras regionais. 

Segundo plano

Apesar do seu papel ativo com parte da imprensa e em palestras, que a coloca em evidência no exterior, internamente ela tem ocupado um papel político coadjuvante sob a sombra de Luiz Inácio Lula da Silva.

Depois do impeachment, coube a Lula assumir no PT o papel de contraponto ao governo de Michel Temer e articular a reação do partido. Ao contrário de todos os outros ex-presidentes desde a redemocratização, Dilma nunca foi uma cacique partidária.

Fora da Presidência, seu papel interno dentro do PT tem sido limitado a se portar como um símbolo e porta-voz. Em junho, sua ex-ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, foi eleita para a Presidência do partido. 

Oficialmente, Dilma continua defendendo a realização de "diretas já" para solucionar a crise política, que começou antes mesmo da sua queda. Seu partido, no entanto, já deu exemplos evidentes de não estar empenhado na realização de um novo pleito antes de 2018.

Justiça

A defesa da ex-presidente ainda contesta o impeachment com um mandado de segurança junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). O caso está no momento no gabinete do ministro Alexandre de Moraes. 

Dilma continua como alvo de dois inquéritos. Um deles trata das pedaladas fiscais do seu governo. Outro é uma investigação que apura suspeita de obstrução da Justiça no caso da nomeação de Lula como ministro.

Na frente judiciária, Dilma acumulou algumas boas notícias neste último ano. Sua chapa nas eleições de 2014 acabou sendo absolvida pela Justiça Eleitoral, o que poupou a petista de perder seus direitos políticos.

A delação da JBS também chegou a levantar suspeitas sobre Dilma. O empresário Joesley Batista afirmou que ela e Lula gerenciavam uma conta de propinas no exterior, mas o MPF não viu elementos que comprovassem a acusação.

Nesta semana, auditores do Tribunal de Contas da União (TCU) isentaram ainda a ex-presidente no caso que envolve a compra da refinaria de Pasadena, EUA, efetivada quando a petista era membro do conselho de administração da empresa.

Há dez dias, a PF também informou que não viu elementos que comprovassem o crime de obstrução da Justiça no caso da nomeação de um ministro do Superior Tribunal de Justiça por Dilma.

Vida privada

Após a saída da Presidência, não surgiram contra Dilma acusações de enriquecimento ilícito como no caso de Lula. Ela também exibiu um estilo de vida modesto, ao contrário dos ex-presidentes Sarney e Collor.

A rotina de Dilma é dividida entre o Rio de Janeiro e Porto Alegre. Na capital gaúcha, moram sua filha e os dois netos. Em 12 de agosto, morreu seu ex-marido, Carlos Araújo. 

Nas ocasiões em que Dilma recebeu a imprensa em seu apartamento, jornalistas apontaram a ex-presidente como uma leitora voraz que leva um estilo de vida simples. Ela ainda continua a pedalar às margens do rio Guaíba.

Sua vida social é discreta no Brasil. É raro vê-la em restaurantes ou eventos sociais que não tenham relação com o antigo papel de presidente. Ela parece mais à vontade no exterior, onde já foi fotografada em jantares e encontros com amigos. 

Ela ainda viaja uma vez por mês para visitar a mãe em Belo Horizonte. Em outubro, afirmou que a mãe, de 94 anos, que sofre com demência senil, ainda não sabia sobre o impeachment.

A renda vem de uma aposentadoria de 5.500 reais pelo INSS. Ela também recebe o aluguel de três imóveis e uma remuneração não divulgada como presidente do conselho curador da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT.

Pela lei brasileira, ex-presidentes não tem direito a aposentadoria, mas podem contar com oito assessores - quatro seguranças, dois assessores pessoais e dois motoristas -, além de dois veículos oficiais que são custeados pela Casa Civil.

As passagens destes para acompanhar Dilma em viagens também são pagas pelo governo. Só entre janeiro e junho, os custos com esses assessores alcançaram mais de 500 mil reais. 

Destes, 292 mil reais correspondem ao pagamento de diárias. Outros 240 mil reais custearam passagens.


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